terça-feira, novembro 22, 2005

PESSOA E A PSICANÁLISE

Pessoa - o Fernando, claro! - parecia saber o que ocorre em um tratamento psicanalítico muito melhor do que muita gente boa. Olha como ele, certamente sem estar pensando nisso, é capaz de magistralmente descrever aquele processo:

"A criança que fui chora na estrada.
Deixei-a ali quando vim a ser quem ora sou;
E hoje, quando vejo que o que sou é nada,
Volto a buscá-la ali onde ficou."

quarta-feira, novembro 16, 2005

ENTREVISTA COM JORNALISTA FÁBIO BASÍLIO

Fabio Basilio - O Sr. com este título faz os casais pressuporem casar e separar [o título em questão é "Quando um casal se separa: como lidar com isso?", palestra a ser proferida aos 26/11/05, na sede da Sociedade Brasileira de Loganálise]?

Luís César - Vou explicitar melhor qual é o foco da palestra em questão. Primeiro, pretendo abordar essencialmente “parcerias de tipo amoroso”, não, por exemplo, de nível comercial, esportivo, político etc., onde, também existem “parcerias”; segundo, no que diz respeito às parcerias amorosas, não quero restringir essa abordagem ao casamento oficial e heterossexual. Namoros, noivados, casamentos, relações homossexuais ou heterossexuais, a dois ou a três, todas essas parcerias estão sujeitas a separações – veladas ou explícitas, parciais ou radicais – e, em todas essas “parcerias amorosas”, qualquer de separação produz, por si só, algum sofrimento, que, submetido a um mal manejo, se torna DESNECESSARIAMENTE maior.

Fabio Basilio - O que mais se vê hoje em dia? Mais pessoas casando ou separando?

Luís César - Imagino que minha resposta anterior tenha deixado claro que, ao abordar SEPARAÇÃO DE CASAIS, não me estou referindo apenas a casamento, mas, sim, a “acasalamento”, onde, naturalmente, se inclui esse último. Sob esse ponto de vista, o mais relevante é o fato de que, o mais das vezes, o ser humano que se “desacasala”, de uma forma ou de outra, se acasala outra vez, talvez dentro de um “formato” que lhe serve mais. Mas é óbvio que, principalmente a partir da segunda metade do século XX, esses ciclos de “acasalamento-desacasalamento” se tornaram muito mais freqüentes.

Fabio Basilio - Sr. Luis qual (ou quais) os fatores para um casamento sólido?

Luís César: O conceito de “sólido” é bem ambíguo. Vou entender como sinônimo de “duradouro”, mas, se o adjetivo “sólido” é ambíguo, o de “duradouro”, aplicado ao casamento, abarca possibilidades demais: com efeito, é evidente que, numa cultura como a islâmica, a duração de um casamento se estriba em fatores bem diversos daqueles em que se funda a duração de um casamento numa cultura de tipo anglo-saxão. É necessário, portanto, que se explicite a que “tipo de duração” nos estamos referindo para responder de maneira adequada a essa pergunta. De qualquer forma, se voltamos à idéia geral de “acasalamento” e se entendemos essa duração como sendo satisfatória PARA AMBOS, o que dizem as estatísticas –. e minha experiência clínica concorda com elas – é que dependem essencialmente de dois fatores: primeiro, atração romântico-sexual e, segundo, capacidade de comunicação.

Fabio Basilio - Pelo título e conteúdo, o seu livro sugere que os casais estão com um discurso desgastado ou muito velho. É necessário um novo diálogo entre os dois?

Luís César: Aqui a resposta é um enfático “sim”. Os instrumentos devem adequar-se aos propósitos da tarefa. O que eu entendo como “acasamento satisfatório” implica uma ligação entre pessoas com direitos iguais, inclusive o de serem diferentes. Somente a partir do século XIX – e mesmo assim apenas no Ocidente – se começou a construir uma conversa compatível com esse tipo de ligação, mas essa construção ainda está em curso e meu livro pretende ser uma contribuição para a aceleração desse processo.

Fabio Basilio - A mulher hoje nos Estados Unidos ocupa mais os postos de trabalho que os homens. Aqui no Brasil, muitas estão indo à luta. O Sr. entende que a independência financeira da mulher impede a "nova conversa"?

Luís César: Não impede, pelo contrário, exige.

Fabio Basilio - O machismo seria um dos entraves para um melhor diálogo entre casais?

Luís César: Existem a macro e a micropolítica. O “machismo”, na micropolítca, é o equivalente do que, na macro, são as ditaduras. E ditador “dita”, não dialoga; tem “súditos” ( = “sub-ditos”), não tem “inter-locutores”.

Fabio Basilio - O Sr. afirmaria que separar-se não causa trauma psicológico nos filhos? Se causam, como minorá-los?

Luís César: O que afirmo cansativa e repetidamente em meu livro é que “frustrações” são parte essencial e inevitável de uma vida sã, “traumas”, não. E saber empregar a Nova Conversa é a maneira de impedir que um processo de separação, em vez de frustrante, se torne traumático.