quarta-feira, janeiro 30, 2008

DIÁLOGOS : LV. AS SETE ETAPAS.

Eu tinha chamado a atenção de Maura para o fato de que, quando se sentia acuada, ela começava a falar com voz esganiçada. O fragmento de sessão que relato a seguir ocorreu cerca de um mês após eu haver feito aquele apontamento:
MAURA: — Que saco! Você já apontou e eu já vi que, de fato, falo com voz esganiçada quando me estou defendendo de alguma acusação. Mas continuo a fazer isso! Já era tempo de haver parado!
LC: — É um pouquinho mais complicado do que isso, Maura. É verdade que você pode adquirir um certo domínio sobre sua voz esganiçada, mesmo antes de termos tido sucesso em dissolver sua FOBIA DE SER ACUSADA, que é a origem de sua TENDÊNCIA, em determinadas circusntâncias, falar assim. Mas a aquisição desse domínio passa por etapas, na verdade por cinco etapas.
MAURA: — E quais são elas?
LC: — Bem, a primeira delas você já ultrapassou.
MAURA: — E qual é essa primeira etapa?
LC: — É a pessoa reconhecer que o comportamento problemático existe ou, pelo menos, que ele é problemático. Por exemplo, minha impressão é a de que você não se dava conta de que, quando fica numa posição defensiva, começa a falar de maneira esganiçada ou, pelo menos, não se dava conta de que falar dessa forma é um problema, porque você passa para a outra pessoa impressão de desequilíbrio.
MAURA: — Tá, tudo bem. Então já passei a primeira etapa. Quais são as outras?
Vou abandonar a forma do diálogo e adotar o texto corrido para descrever as demais etapas.
Segunda etapa – o sujeito só percebe que apresentou o comportamento retroativamente, DEPOIS que ele ocorreu. ― “Ih, respondi ao chefe o tempo todo com voz esganiçada!” Mas, quando essa percepção ocorre, já é tarde demais para mudar alguma coisa.
Terceira etapa – o sujeito percebe que está apresentando o comportamento DURANTE sua própria ocorrência: ― “Ih, estou falando de forma esganiçada!” Mas não consegue parar de fazer o que se percebe fazendo.
Quarta etapa – o sujeito percebe que está apresentando o comportamento DURANTE sua própria ocorrência: ― “Ih, estou falando de forma esganiçada!” E consegue parar de fazer o que se percebe fazendo.
Quinta etapa – o sujeito percebe que está para apresentar o comportamento problemático ANTES de ele ocorrer: ― “Ih, este é o tipo de situação em que costumo falar com voz esganiçada. Mas, desta vez, não vou permitir que isso aconteça!” Mas não consegue e a voz sai esganiçada...
Sexta etapa – o sujeito percebe que está para apresentar o comportamento problemático ANTES de ele ocorrer: ― “Ih, este é o tipo de situação em que costumo falar com voz esganiçada. Mas não vou esganiçar minha voz mesmo!” E consegue controlar a voz, que sai num registro natural.
Sétima etapa – O sintoma desaparece e, mesmo sem prestar atenção nisso, o sujeito E consegue controlar sua voz, que sai num registro natural.
Esse é o quadro completo da evolução possível do processo de desaparecimento de um sintoma. Por vezes, quando o paciente nos chega, já está em uma etapa adiantada do processo; por vezes, há regressões; por vezes, alguma etapa é saltada, mas saber da possível existência delas todas faz que o paciente tenha mais tolerância com seu ritmo de evolução do que Maura demonstrou para consigo mesma no início do diálogo transcrito acima.

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