domingo, março 12, 2006

DIÁLOGOS LOGANALÍTICOS V: MAIONESE

Freud dizia que a Psicanálise não era uma Weltanschauung, leia-se, uma visão do mundo. Essa afirmação precisa ser qualificada. Mal entendida, pode parecer que a Psicanálise não se fundamenta em nenhum tipo de Filosofia. Fundamenta-se, sim. E um dos trabalhos da visão loganalítica da Psicanálise é demonstrar isso. A Psicanálise tem três grandes pilares filosóficos que – além de por Nietzsche – foram claramente enunciados por três grandes filósofos brasileiros, nomeadamente:

Primeiro princípio: “Quem não se comunica, se trumbica” (filósofo brasileiro responsável: José Abelardo Barbosa de Medeiros, vulgo Chacrinha);
Segundo princípio: “Eu é eu e o sinhorr é o sinhorr” (filósofo – note-se, “filósofo”, não “gramático”! – brasileiro responsável: Nerso da Capitinga, distinto colaborador, não da Academia Brasileira de Letras, mas da Escolinha do Professor Raimundo);
Terceiro princípio: “Faish partshi”, normalmente grafado “faz parte” (filósofo brasileiro responsável: o Bambam, do Big Brother, que teve uma menor longevidade do que os anteriores em nosso cenário intelectual; note-se que também era só filósofo, não era gramático).

Pois bem, é a aplicação dos três princípios expostos acima que nos permite construir diálogos saudáveis. Voltaremos várias vezes a esses princípios, exemplificando seu emprego, em diálogos específicos, alguns, como o abaixo, inspirados em imeils que me têm sido enviados por leitores desta coluna.

PEDRO (com Maria, em um supermercado): — Podemos levar maionese, se você quiser.
MARIA: — Não sei se eu quero maionese.
PEDRO: — Mas, se você quiser, podemos levar. Você quer?
MARIA: — Já disse que não sei. Você quer?
PEDRO: — Eu estou perguntando se você quer.
MARIA: — Já disse que não sei! Você quer?
PEDRO: — Eu perguntei se VOCÊ queria maionese.
MARIA: — Eu ouvi perfeitamente você me perguntar sobre se EU queria maionese e lhe respondi que EU NÃO SEI SE QUERO MAIONESE. Então vou acrescentar o seguinte: não estou pensando em maionese, não quero pensar sobre maionese, se VOCÊ quiser levar maionese, VOCÊ leva a maldita maionese e se não quiser deixa a maldita maionese aqui. Aliás, acabei de chegar á conclusão de que EU odeio maionese, de que nunca mais vou comer maionese, nem conversar com pessoas que FALAM SOBRE MAIONESE! Está claro assim?

E Pedro, que não conseguiu assumir que ELE estava querendo levar a maionese, deixou-a no supermercado. A aplicação do princípio “eu é eu e o sinhorr é o sinhorr” teria poupado tal dissabor. Em tempo: “disSABOR”, aqui, significa mais do que FALTA DE MAIONESE.

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