sexta-feira, julho 20, 2007

DIÁLOGOS LOGANALÍTICOS XXXII: CHATICE.

Fragmento de sessão:

FÁBIO: — Você está me achando chato?
LC: — Posso?
FÁBIO: — Claro que não!!!
LC: — E por quê?
FÁBIO: — Ué, eu me sinto mal.
LC: — Eu também, se achar você chato, vou-me sentir mal.
FÁBIO: — Então!
LC: — Então, o quê?
FÁBIO: — Eu quero evitar isso.
LC: — Fábio, o que é que nos estamos fazendo aqui?
FÁBIO: — Loganálise, ué!
LC: — A Loganálise é um papo social?
FÁBIO: — Não.
LC: — Pois é. Num papo social, nada mais razoável do que os participantes evitarem ser chatos. Não me parece que seja bem o nosso objetivo aqui. Qual é nosso objetivo aqui?
FÁBIO: — Ué, eu ficar bom.
LC: — Tá, mas que recurso nós estamos usando para atingir isso?
FÁBIO: — Ué, eu falar tudo o que me vem a cabeça e depois refletirmos juntos sobre o que está acontecendo ou que aconteceu.
LC: — TUDO o que vem à sua cabeça, MENOS o que faça você parecer chato?
FÁBIO: — Não. Você tem razão. Faz parte do jogo eu ter que enfrentar a possibilidade de você me achar um chato.
LC: — Acho que eu tenho perfeitas condições de sobreviver à possibilidade de achá-lo um chato.
FÁBIO: — Tá bom, pode me achar chato á vontade.
LC: — Obrigado, fico mais à vontade. Podemos prosseguir?
FÁBIO: — Claro! Blá, blá, blá, blá, blá, blá...

Consideremos duas situações antípodas: por um lado, uma sessão psicanalítica, em que o fato de o analista estar achando o paciente interessante ou chato, culpado ou inocente, bonito ou feio, inteligente ou burro etc. não deveria em nada prejudicar ao paciente; por outro, uma audiência judicial, em que faz toda a diferença do mundo o juiz achar que o réu tem razão ou não. No primeiro caso, não há o menor sentido em tentar influenciar o pensamento do analista; no segunto, há todo sentido em tentar influenciar o do juiz. Acontece que a maior parte das pessoas está viciada nesse segundo tipo de comportamento e tenta manipular os outros, introduzindo ou querendo bloquear neles, pensamentos CUJA CONSEQÜÊNCIA CONCRETA sobre a vida do pretenso manipulador é INSIGNIFICANTE OU NULA. Conseqüência? Exemplifico: um sujeito está sentado em um restaurante e pede um vinho mais caro do que o que queria pedir PARA QUE O CASAL DO LADO, que ele não conhece nem tem a menor relevância para sua vida, NÃO PENSE QUE ELE É POBRE. Em suma: está sendo controlado por aqueles que pretende controlar, e com um sério agravante: SEM A MENOR NECESSIDADE DE FAZÊ-LO!
A regras da relação psicanalítica foram idealizadas para que essa armadilha seja exposta e evitada.

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