sexta-feira, julho 20, 2007

DIÁLOGOS LOGANALÍTICOS XXXV: LOGANÁLISE E AS TESTEMUNHAS DE JEOVÁ

Não sou religioso. Na verdade, sou agnóstico. Do ponto de vista clínico, o que verifico é que determinadas pessoas usam a religião a seu favor e dos demais e outras usam-na contra si mesmas e contra os outros. Muitas vezes, a mesma religião. Quanto a conteúdo, acho boa parte do que dizem padres, pastores, imãs e aiatolás um amontoado de insensatez.
Foi, portanto, para meu alargado espanto que encontrei, folheando um exemplar de “A Sentinela” (vol. 127. n° 18), revista publicada pelas Testemunhas de Jeová, um artigo intitulado “Mostre Amor e Respeito por Controlar a Língua”. “Controlar a língua”!? Prato cheio para um loganalista! Meti-me imediatamente a lê-lo e – amplia-se ainda mais o espanto! – encontro algumas afirmações – a maior parte delas apoiadas por citações da Bíblia – absolutamente afinadas com o que defendo em meu livro “A Nova Conversa” e nos “Diálogos” que publicados aqui. . Vejamos:

1º. O reconhecimento – e numa revista que, segundo o editor, tem cada número com uma tiragem média de 27 milhões de exemplares! – da fundamental importância da qualidade de nossa comunicação verbal: “a maneira como você usa a língua é um assunto sério” (p. 21);

2º. A afirmação de que um adequado uso da palavra tem estreita relação com a capacidade de sermos senhores de nós mesmos. O artigo cita o apóstolo Tiago (3:2): “Se alguém não tropeçar em palavra, esse é o homem perfeito, capaz de refrear também todo o seu corpo” (ibidem)

3º. A condenação da macroscopia, considerada forma inadequada de comunicação interpessoal: “E que dizer de afirmações indiscriminadas ... Não concorda que declarações do tipo ‘você sempre atrasa’, ou ‘você nunca me escuta’ são realmente exageros?” (Ibidem)

4º. A proposta de que autologias – frases enunciadas na primeira pessoa verbal – substituam as heterologias – frases enunciadas nas demais pessoas verbais: “Digamos que surja um desacordo entre marido e esposa. Uma sutil mudança de ‘você’ para ‘eu’ pode evitar que um desacordo menor se torne uma discussão acalorada. Por exemplo, em vez de dizer: ‘Você nunca passa tempo comigo!’, por que não dizer: ‘Eu gostaria que pudéssemos passar mais tempo juntos’?” (Pág. 22)

5º. A ênfase em que, na medida em que estou fazendo o essencial, ou seja, expondo meus sentimentos e desejos em primeira pessoa, ter ou não ter razão é algo secundário: “Resista à tentação de tentar provar quem está certo e quem está errado” (ibidem).

Uma verdadeira aula de Loganálise, que, agora, além de se apoiar em Freud, encontra seu apoio bíblico!
De algo, contudo, defendido por “A Sentinela”, discordo radicalmente, seja, da proposta veiculada no artigo, de que, além de controlar nossa língua, tentemos controlar nossos sentimentos: “Paulo [Efésios 4:31] exortou os efésios a evitar não apenas as palavras duras, mas também os sentimentos por trás delas” (ibidem).
Sentimentos expulsos voltam a galope, sob forma de sintomas e de comportamentos destrutivos que escapam de nosso controle. ISSO, que São Paulo me perdoe, NÃO DÁ CERTO!

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