terça-feira, julho 26, 2011

HETERISMO

Eis uma vinheta clínica, que belamente ilustra os mecanismos que subjazem a esse neologismo por mim cunhado e que parece endêmico ao acontecer humano:

Um paciente recentemente internado em manicômio é visitado por sua mãe. Pula em seu pescoço. Acorrem médicos e enfermeiras, arrancando-a das manoplas do filho. Medicam-no, remitindo o surto psicótico. A mãe, hesitante, torna a visitá-lo. Enfermeiros e médicos põem-se a postos. Desfazendo gerais temores, o paciente recebe a mãe sereno e carinhoso. Quando essa, ao sair, chega quase à porta, ouve chamá-la o filho e volta-se, para ouvi-lo dizer: “Mãe, acho que tem alguém querendo agredir você!”

Todo recalque implica projeção da parte recalcada. Quando o recalque é generalizado, a projeção generalizada daí resultante – e particularmente comum na histeria – bem merece ser denominada, como o fiz, heterismo, que, se bem me acude a memória, deve corresponder, não sei quão precisamente, ao que Klein chamou de “externalização”.

P.S.: A propósito de bibliografias, quem quiser conhecer, numa só tacada, a essência de Klein, deveria compulsar o livro de Hanna Segal, “Introdução à obra de Melanie Klein”.

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