quinta-feira, julho 21, 2011

A “PSICOTERAPIA” DE PESSOAS SAUDÁVEIS

Wilhelm Reich dizia que o grande problema de, via tratamento psicanalítico, tornarmos uma pessoa saudável era: com quem, agora, ela vai jogar o jogo da sanidade?

Leia-se: como lidar com o fato de estar superiormente são inserido em uma humanidade superiormente doente?

Tenho notado com certo espanto que, cada vez mais sou procurado por pessoas que, do ponto de vista psicológico, ao invés de mais doentes, são, bem ao inverso, mais saudáveis do que a média da população. E que tipo de ajuda posso eu oferecer a essas pessoas?

Psicoimunidade. Como assim? Assim:

Neurose pega! Quanto mais saudável é uma pessoa, mais ela é uma pessoa distinta. Distinta no rasteiro e literal sentido de que ela sabe distinguir quem é ela de quem é o outro. O conhecido personagem humorístico Nerso da Capitinga entendia disso. Frequentemente, declinava o mote: “ieu é ieu, o sinhorr é o sinhorr”. O português não era exatamente acadêmico, mas a filosofia estava à altura de um Nietzsche!

Pois bem, quanto mais saudável é uma pessoa, mais ela sabe quem ela é e quem são os outros. E, não sei se me precipito, mas sou fortemente inclinado a dizer que, se há uma característica universal da doença psicológica em nosso planeta, ela merece o nome de promiscuidade existencial. A prática lingüística corrente e aparentemente inócua de se pontificar “porque a gente ...”, quando uma pessoa saudavelmente distinta diria “porque eu ...” é berrante sinal dessa promiscuidade.

E que vejo nessas pessoas distintamente saudáveis que procuram minha ajuda? Que carecem de um repertório lingüístico suficientemente eficaz para se defenderem dessa promiscuidade existencial endêmica que ameaça a sua saudável distinção.

Poucas – quase nenhuma dessas pessoas – têm repertório lingüístico para, diante de um invasivo e desrespeitoso “a gente”, responder:
“A gente quem, cara-pálida?”

Com elas, faço pouco mais do que lhes transmitir um repertório que defende sua saudável distinção.

E minha experiência tem demonstrado que esse pouco é muito.

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