sábado, novembro 03, 2007

DIÁLOGOS LOGANALÍTICOS XXXVIII: PSICOVACINAÇÃO

Como vimos no diálogo anterior, a função do tratamento psicanalítico (a Loganálise, enquanto técnica, é uma maneira particular de se levar adiante esse tipo de tratamento) é patrocinar a dissolução do interdito que impede que um conhecimento de natureza não verbal se conecte a um conhecimento de natureza verbal. Na verdade, o núcleo gerador dos distúrbios psicológicos passíveis de serem tratados psicanaliticamente, são fobias a certas palavras, verdadeiras LOGOFOBIAS. Vale sublinhar isso:

A ESSÊNCIA DO TRATAMENTO PSICANALÍTICO É A DISSOLUÇÃO DE LOGOFOBIAS.

No diálogo intitulado “Você me acha gostosa?”, afirmei que, para levar adiante de forma bem sucedida um tratamento psicanalítico, “não basta você acertar QUAL O TEMA que merece tratamento prioritário durante um certo momento da análise, é necessário que você os CONSIGA ABORDÁ-LOS DE MANEIRA ‘VACINAL’. Na verdade, a Psicanalise – loganalítica ou não – opera como uma vacina: você introduz no paciente o elemento perturbador, mas com sua virulência suficientemente atenuada para que a conseqüência disso seja a geração de imunidade, não de doença.”

Vejamos o seguinte diálogo:

PACIENTE: — Tô com medo de falar uma coisa e você pensar que eu sou veado.
LC: — Já pensei. Pronto, pode falar.
PACIENTE: — Pô, Luís César, assim não dá!
LC: — Ué, a dificuldade de falar não era o medo de que eu pensasse que você é veado? Como eu já aconteceu, não há mais nada a temer.
PACIENTE (visivelmente mais à vontade): — Bem, o que eu estava pensando em dizer é que blá, blá, blá, blá, blá, blá, blá...

Quando se está trabalhando em áreas com um razoável nível de metrificação, pode-se aprender de um professor experiente ou na própria literatura relevante que uma determinada condição mórbida deve ser tratata inicialmente com, por exemplo, 200 miligramas de Benzetacil, uma vez por dia, durante um mês. Qual a possibilidade de, numa área não metrificada como a da clínica psicanalítica, se transmitir ou obter a informação de que a logofobia de um determinado paciente deverá se dissolver se lhe forem introduzidos, por exemplo, 200 psicotrons de “sentimento de ser veado” a cada sessão? Nenhuma, claro. Ou seja, o terapeuta fica ao sabor de sua sensibilidade, experiência e criatividade, para atingir a tal “dosagem vacinal”. No diálogo transcrito aqui, eu acertei essa dosagem, liberando no paciente uma fala bloqueada; já, como vimos, no diálogo transcrito em “Você acha que eu sou gostosa?”, errei – para mais – na dosagem, desorganizei a paciente e ela interrompeu o tratamento. Fiz isso também, recém-formado, com um outro paciente, ao expor-lhe de maneira excessivamente clara a origem dos seus sintomas. Ele procurou um psiquiatra que o atendeu medicamentosamente e, em seguida, rompeu o tratamento comigo. Nos quarenta anos a que me dedico a clínica psicanalítica, cometi esse erro ainda mais uma vez, mas, dessa feita, pude reparar o erro.
Conto no próximo “DIÁLOGO”.

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